domingo, 11 de junho de 2017

O frio

O frio entra sorrateiramente
Pelas frestas das portas e janelas
Pelas golas e mangas dos casacos
Pelas tramas das malhas e lãs
O frio congela lentamente
As pontas dos dedos e do nariz, arroxeados
As orelhas e os lábios, avermelhados
As mãos e os pés, anestesiados
O frio dissipa suavemente
Debaixo das cobertas
De frente à lareira
Depois da bebida quente
Mas se nem coberta nem bebida tem efeito
É que o frio vem da alma:
Permanece—para sempre—no peito

- Carolina Zanelli

Camadas

O tempo passa
E as camadas do meu ser
Vão-se embora uma a uma
Algumas são lentamente
Desgastadas
Raladas
Polidas
E o uso faz vir à tona
As camadas que estão por baixo
Outras se soltam sozinhas
Secas
Envelhecidas
E se desprendem de mim
Como a pele da serpente
Confesso que dá até um alívio!
Já outras a vida me arrancou
À força
Bruta
Cruel
Camadas que eu não queria largar
Máscaras que eu vinha usando há tanto tempo
Que julgava impossíveis de retirar
Eu não mudei ao longo do tempo:
Fui só virando
Cada vez mais
A verdadeira eu

- Carolina Zanelli

Busco

Busco uma árvore
Sob cuja sombra
Eu possa plantar meus sonhos
Busco um jardim
Sobre cuja cama de flores
Eu possa ninar minhas ideias
Busco uma floresta
Sob cujo dossel
Eu possa libertar meus ideais
Busco um campo
Sobre cuja grama
Eu possa despejar minhas esperanças
Não existe local perfeito
Para se plantar os sonhos
Mas não busco
A perfeição
Busco apenas
Que os sonhos germinem
E brotem realidade

- Carolina Zanelli